FisioVets

Medicina veterinária

Fisiologia da glândula adrenal - sistema endócrino

As adrenais são órgãos endócrinos bilaterais que repousam no teto do abdome e ficam em uma posição craniomedial aos rins correspondentes. O seu interior é dividido em córtex e medula, sendo que cada uma das regiões produz diferentes hormônios. A medula sintetiza e secreta a adrenalina e noradrenalina; o córtex produz os esteroides, sendo que existem ali 3 classes principais: os mineralocorticoides, glicocorticoides e hormônios sexuais. 

Anatomia

Histologicamente, o córtex da adrenal é dividido em 3 zonas:  Glomerulosa: É a camada mais externa e suas células são organizadas em um formato espiral. A zona glomerular tem a função de produzir e secretar a aldosterona, sendo ela o principal mineralocorticoide;  Fasciculada: É a camada intermediária. É uma camada larga e suas células são organizadas em colunas. Em vacas e ovelhas, essa camada ainda é dividida em interna e externa; Reticular: Camada mais interna que fica mais próxima à medula e suas células são organizadas de forma aleatória; A fascicular e reticular produzem e secretam glicocorticoides e esteroides sexuais. Essas células tem abundância em gotículas lipídicas (ésteres de colesterol), mitocôndrias e retículo endoplasmático liso. Essa característica é importante pra síntese de esteroides.

Síntese de corticoides

Os esteroides são derivados do colesterol, por esse motivo o armazenamento deles dentro dessas células é importante, pois já ficam prontamente disponíveis para síntese de hormônios. Pra que a síntese comece, lá dentro da mitocôndria, o colesterol precisa ser hidrolisado para formar a pregnenolona; ela é a molécula que será usada pra síntese de todos os esteroides. Na produção de cortisol, as células da zona fascicular e reticular possuem uma enzima chamada 17-alfa-hidroxilase, que é essencial na síntese de cortisol, enquanto nas células da glomerular existe a aldosterona sintase, o que possibilita a síntese da aldosterona. Um outro glicocorticoide importante nos animais é a corticosterona; sua potência é menor que a do cortisol, mas ele é o principal glicocorticoide secretado pelo córtex adrenal dos roedores, algumas espécies de aves, répteis e anfíbios, e a sua secreção também é submetida ao controle do eixo hipotálamo-hipófise. Como mencionado, o córtex adrenal também produz andrógenos e estrógenos (hormônios sexuais).

Transporte

No sangue, por serem pouco solúveis no plasma, necessitam de proteínas transportadoras. Existe uma proteína plasmática com alta afinidade pelo cortisol, a transcortina, também chamada de globulina ligante de corticosteroides. De todo cortisol transportado, 75% fica ligado à transcortina, 15% fica ligado à albumina e 10% fica livre para interagir com os receptores. A aldosterona fica 50% ligada a albumina, 10% à transcortina e 40% fica livre pra fazer o efeito biológico.

Efeitos biológicos

Os hormônios corticoides, apesar de serem divididos em duas classes, acabam tendo atividades que se sobrepõe, por exemplo: o cortisol também tem atividade mineralocorticoide, mas com potência bem reduzida, e o mesmo vale para aldosterona. Os glicocorticoides são mediadores intermediários do metabolismo. Dentre as funções dos glicocorticoides estão:

Estímulo da gliconeogenese hepática: Estimulam a conversão de aminoácidos em carboidratos. Isto acaba aumentando o glicogênio hepático e aumento dos níveis séricos de glicose. Esses efeitos sobre o metabolismo hepático de glicogênio também são observados com a insulina, mas os efeitos sobre os níveis plasmáticos de glicose são diferentes, já que, ao contrário da insulina, diminuem a absorção e o metabolismo de glicose pelos tecidos periféricos, principalmente nos adipócitos e na musculatura.

Metabolismo de lipídios: estiula lipólise e redistribuição de gordura hepática e abdominal; essa redistribuição leva a aquela aparência de tonel em animais e humanos com hiperadrenocorticismo;

Síntese proteica: Outro efeito dos glicocorticoides é a inibição da síntese proteica e aumento do catabolismo proteico com liberação de aminoácidos para circulação, o que favorece a gliconeogênese;

Rins: Aumentam a taxa de filtração glomerular e inibe a secreção de ADH, o que possibilita maior excreção de água pelos rins;

Outras atividades biológicas incluem: Imunossupressão (por suprimir macrófagos e linfócitos) e estímulo da secreção gástrica;

Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal

A secreção dos glicocorticoides é submetida ao controle do hipotálamo. Fatores como o estresse por exemplo inicia a secreção de CRH (hormônio liberador de corticotrofina), que por sua vez vai até o hipotálamo e estimula a liberação de ACTH  (corticotrofina). Esta cai na corrente sanguínea e vai até a adrenal fazendo com que o cortisol seja liberado. Quando o cortisol atinge concentrações suficientes, acontece um feedback negativo para hipotálamo e pra hipófise inibindo a secreção de CRH e ACTH.

Mineralocorticoides

Os mineralocorticoides são importantes no controle da pressão arterial por aumentar a reabsorção de sódio, pois fazem parte do sistema renina angiotensina aldosterona.

Medula da adrenal

Deixando um pouco de lado o córtex e indo para medula, como mencionado, essa região é responsável por produzir a adrenalina (conhecida também como epinefrina) e noradrenalina, ou norepinefrina.

Estes são hormônios que estão no grupo das catecolaminas. Existem ali diferentes tipos celulares denominadas de células cromafins. As células que produzem adrenalina não são as mesmas que produzem a noradrenalina. Para entender melhor como ocorre o estimulo pra secreção e produção, é necessário relembrar uma característica anatômica importante do sistema nervoso autônomo simpático.

As fibras pré-ganglionares liberam acetilcolina e o pós-ganglionar libera adrenalina. Temos ali fibras pré- ganglionares chegando na região e liberando acetilcolina; ela se liga nos seus receptores e estimula a síntese das catecolaminas pelas células da região. Além de estimular a síntese, também acaba estimulando a liberação, fenômeno conhecido como pareamento de estimulo de secreção.

Funções das catecolaminas:

Assim como o cortisol, as catecolaminas fazem a regulação do metabolismo intermediário e também permite alterações fisiológicas em situações de estresse agudo. Nos tecidos-alvo, existem receptores adrenérgicos onde esses hormônios podem agir.

São descritos dois tipos de receptores: o alfa e o beta, sendo que cada um é subdividido em dois tipos: alfa 1 e 2 (α1 e α2) e beta 1 e 2 ( β1 e  β2). Os receptores alfa estão presentes nas terminações nervosas simpáticas, sendo que α1 é encontrado no terminal pós-sináptico e o α2 no pré-sináptico, ou seja, eles controlam a liberação de catecolaminas nas terminações simpáticas. Os receptores β1 estão localizados no coração e os receptores β2 afetam a contração do musculo liso promovendo relaxamento, e afetam o metabolismo.

Tanto a adrenalina quanto a noradrenalina agem nos mesmos receptores, mas com alguns afeitos diferentes. Quando a gente fala de controle metabólico por parte desses hormônios, isso é dado pelos receptores B2 adrenérgicos. A potência da adrenalina nesses receptores é 10 vezes maior que a noradrenalina. As catecolaminas promovem:

– Glicogenólise hepática e na musculatura esquelética. Com isso acaba aumentando os níveis séricos de glicose, além disso estimula a gliconeogênese.

– Outro efeito é o estímulo da lipólise, o que aumenta os níveis de ácidos graxos no sangue;

– Aumento da frequência cardíaca e força de contração, e aumento da resistência periférica total;

-No sistema respiratório promove o relaxamento da musculatura brônquica resultando em broncodilatação;

Os efeitos biológicos das catecolaminas são diversos e afetam muitos outros sistemas, por isso não serão todos falados aqui. A secreção de catecolaminas na corrente sanguínea é estimulada principalmente pela hipoglicemia e situações estressantes. Os fatores estressantes são capazes de liberar grandes quantidades de adrenalina, principalmente o estresse agudo. Por esse motivo ela é conhecida como hormônio de luta ou fuga.

Confira a vídeo aula completa sobre fisiologia da glândula adrenal

Referências:

1- Cunningham – Tratado de fisiologia veterinária 2- Guyton E Hall – Tratado De Fisiologia Médica 3- Dyce, K. M – Tratado De Anatomia Veterinária

Mais postagens

Ciclo cardíaco

O ciclo cardíaco O ciclo cardíaco é o processo pelo qual o coração humano ou animal bombeia o sangue para o corpo. O ciclo é

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *